Número 64
Publicado pelo Jornal do Brasil, de 23 de dezembro de 2000, pg. 14.
CONJUNTURA
Nesta semana, quando a grande maioria dos brasileiros está nos shoppings centers comprando presentes natalinos, Brasília surpreende com uma excelente notícia, reduzindo as taxas básicas de juros, de 16,5% para 15,75%. Essa queda é a mais baixa desde 1974, quando as condições econômicas do país eram totalmente diferentes
Com essa decisão, o Banco Central mostrou coragem e ousadia mais em relação às condições externas – desaceleração da economia americana, crise na Argentina, volatilidade do preço do petróleo e conflito no Oriente Médio – do que em relação às condições internas – inflação sob controle, próxima a 6% ao ano; elevado superávit fiscal, R$ 35 bilhões ou 3,3% do PIB e necessidade de financiamento externo de 1,07% do PIB (saldo em conta corrente mais investimentos estrangeiros), entre outras.
O impacto direto e imediato da redução dos juros é sobre a dívida mobiliária interna em poder do público que, no mês de outubro registrou R$ 367 bilhões, tende a ficar mais barata, uma vez que a taxa over/selic é o seu principal indexador, representando 50,1% (R$ 183,9 bilhões). Com a redução de 0,75 pontos percentuais nas taxas, o governo deverá economizar R$ 1,38 bilhões em pagamentos de juros que alcançou, em termos reais somente em outubro, R$ 27,1 bilhões. Essa economia, de R$1,38 bilhões, equivaleria doar mais de 9 milhões de cestas de natal a um custo de um salário mínimo cada. Para a campanha de “um natal sem fome e com justiça social”, o Banco Central já fez a sua parte. Uma outra seria a permanência dos ladrões de colarinho branco na cadeia. Assim, nós poderíamos dizer às nossas crianças que o crime ou a lesa pública realmente não compensa.